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Para pessoas de Bom Gosto!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

HISTÓRIA DO BRASIL

HISTÓRIA DO BRASIL III -------------------------------------------- Por Frei Vicente do Salvador ---------------------------------- Bahia, 1627--------------------------------------------------------- Ano 127 do descobrimento-------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------------------- CAPÍTULO SEGUNDO---------------------------------------------------- -------------------------------------------------------------------- Do nome do Brasil------------------------------------------------------------------ ----------------------------------------------------------------------------------- ------- O capitão-mor levantou a cruz em 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz e por isto foi dada à terra descoberta a denominação de Santa Cruz, pela qual foi conhecida durante muitos anos. Porém o demônio, que perde todo o domínio sob o sinal da cruz, trabalhou para que se esquecesse o primeiro nome da terra e prevalecesse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado, de cor vermelha, com que tingem panos. O nome deste tomou o lugar daquele divino pau que deu tinta e virtude a todos os sacramentos da igreja. Talvez por isso, ainda que ao nome de Brasil tenham juntado o de estado, tornando-se então Estado do Brasil, ficou ele tão pouco estável que sem ainda completar um século de povoamento, quando isso escrevo, em alguns lugares já está começando a se despovoar. E mesmo sendo a terra tão grande e fértil, como adiante veremos, nem por isso tem aumentado mas sim, diminuído. -------- Disto dão alguns a culpa aos reis de Portugal, outros aos povoadores; aos reis, pelo pouco caso que fizeram deste grande estado, dele não querendo sequer o título. Intitularam-se senhores da Guiné, por uma caravelinha que lá vai e vem, como disse o Rei do Congo, mas do Brasil não quiseram se intitular. E depois da morte de el-rei d. João Terceiro, que soube estimá-lo e o mandou povoar, nenhum outro dele se ocupou, senão para receber suas rendas e direitos. Do mesmo modo se haviam os povoadores os quais, por mais ricos e arraigados à terra que fossem, tudo pretendiam levar para Portugal. Se suas fazendas e bens pudessem falar como os papagaios, eles haveriam de ensinar-lhes como ensinam a estes: “Papagaio real, para Portugal”. Tudo querem para lá e isto não é só com os que de lá vieram, mas também com os que aqui nasceram. Uns e outros usam a terra não como senhores, mas como usufrutuários, só para a desfrutarem e deixarem-na destruída. --------- Daí vem o fato de que nenhum homem nesta terra é republico. Não zela nem trata do bem comum, mas sim apenas de seu bem particular. Não me havia apercebido disto tanto quanto um bispo dominicano de Tucumán, que por aqui passou rumo à Corte. Grande canonista, homem de bom entendimento e prudência e também bastante rico. Ele observou que mandava comprar um frangão, quatro ovos e um peixe para comer, e nada disso estava à venda na praça ou no açougue. Mas se mandava pedir as mesmas coisas e muitas outras em casas particulares, tudo encontravam. O bispo então disse que nesta terra as coisas estão trocadas. Ela não é toda república, mas cada casa o é em separado. De fato, estando as casas dos ricos providas de tudo (ainda que à custa alheia, pois muitos devem tudo o que têm), porque têm escravos, pescadores, caçadores que lhes trazem a carne e o peixe, pipas de vinho e azeite, que juntam-se para comprar, nas vilas muitas vezes não se acha isto à venda. E o que é fontes, pontes, caminhos e outras coisas públicas é uma lástima, porque ninguém as faz, ainda que bebam água suja e se molhem ao passar pelos rios e se orvalhem pelos caminhos. Este procedimento deriva de que não cuidam de nada do que aqui há de ficar, mas apenas do que poderão levar para o reino. -------- Estas são as razões porque alguns dizem que o Brasil não cresce nem permanece. A outra razão é a de que já falamos, de haverem preferido chamá-lo estado do Brasil, tirando-lhe o nome de Santa Cruz, com o qual poderia ter sido estado e ter estabilidade e firmeza.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

HISTÓRIA DO BRASIL

HISTÓRIA DO BRASIL II --------------------------------------------------- Frei Vicente do Salvador Bahia,1627--------------------------------------------------------------------------------------Bahia,1627-------------------------------------------------------------- LIVRO PRIMEIRO -------------------------------------- Do Descobrimento do Brasil --------------------------------------------------------------------- CAPÍTULO PRIMEIRO -------------------------------------------------------------- Como foi descoberto este Estado ------------------------------------------------------ A terra do Brasil não se descobriu de propósito. Acaso indo Pedro Álvares Cabral para as Índias em comando de doze naus, afastou-se da costa da Guiné e achou esta outra a Ocidente, da qual não havia notícia alguma. Costeou alguns dias com tormenta até chegar a um porto seguro. Ali desembarcou com soldados armados prontos para lutarem, já que um batel de exploração informara a presença de muitos gentios. Mas não foram necessárias armas. A admiração foi tanta em verem homens vestidos, calçados, brancos e de barbas, tão diferentes deles, que então os tomaram por divinos, Caraíbas na sua língua, e se chegaram pacificamente.-------------------- Assim como os índios da Nova Espanha chamaram os espanhóis de “espumas do mar” ou Viracocés, aqui o nome de Caraíbas permaneceu, significando mais que simples homens. Mas muito mais cresceu neles o respeito quando viram oito frades da ordem de São Francisco, com frei Henrique à frente, que ali celebrou uma missa. Ao levantar da hóstia e do cálice, imitavam os cristãos ajoelhando-se e batendo ao peito, demonstração de que Cristo, no divino sacramento, domina os gentios.-------------------- Os antigos gentios diziam que o deus Pã era senhor do Universo e, se o entendiam como divino, com certeza referiam-se ao Deus que tudo domina. Apenas há lugares onde Ele ainda não é venerado, mas que vindo a conhecê-Lo, como fizeram estes Brasis bárbaros, haverão de amá-Lo e adorá-Lo.-------------------- Vendo a facilidade com que aceitavam a fé católica, os frades quiseram ficar ali para catequizá-los, mas o capitão-mor deles precisava para missão não menos importante e em poucos dias partiram para as Índias. Deixaram ali uma cruz levantada e dois portugueses degradados para que aprendessem a língua e despacharam para Portugal o navio do capitão Gaspar de Lemos para levar a boa nova do descobrimento a el-rei D. Manuel, que recebeu com grande contentamento a inesperada notícia.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

HISTÓRIA DO BRASIL Por FREI VICENTE DO SALVADOR Livro I- Descobrimento, costumes dos naturais, Aves, peixes e animais. Escrita na Bahia a 20 de dezembro de 1627-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ----- O motivo que levou Aristóteles a afastar-se da sua Lógica, Física e Matemática e dar-se a escrever livros de História e de Moral, além de obedecer a encomendas de Alexandre, foi observar que o grande rei estimava tanto o livro de Homero, com os feitos de Aquiles e outros guerreiros, que segundo Plutarco o trazia sempre consigo e quando não, fechava-o em cofre ornamentado de ouro e pedras preciosas e guardava consigo a chave. ----- Como diz Túlio, os livros históricos são luz da verdade, vida da memória e mestres da vida. Siculo diz que eles fazem com que os jovens se igualem aos velhos na prudência, porque o que estes só alcançam com muitos anos de vida e muitos discursos, os jovens podem alcançar em poucas horas de lição, sem saírem de suas casas. Estas eram as razões pelas quais Alexandre estimava tanto o livro de Homero. E se houvessem muitos Alexandres também haveriam muitos Homeros porque, como diz Ovídio, o favor (reconhecimento e recompensa) ajuda o escritor, alivia-lhe o trabalho, anima-o e dá fervor à sua obra. ----- O que vemos porém hoje em dia é que todos querem ser louvados pelos escritores sem no entanto estimá-los e muito menos pagá-los. Apenas Vossa Majestade em Portugal os estima e favorece, como se vê na sua biblioteca, quase toda ocupada por livros históricos, principalmente de Luiz de Camões, João de Barros e Diogo do Couto, que foram muito bem recompensados por seus escritos. Este foi o motivo que tive para sair com esta História do Brasil, junto com o desejo de Vossa Majestade de custear a sua impressão para em tudo se parecer com Alexandre. Ao pedir-me que escrevesse este tratado, Vossa Mercê mandou-me, pois os rogos dos senhores têm a força de preceitos. ----- Desta maneira, ofereço-lhe dois livros: um este, e outro em versos compostos por um amigo a meu pedido, para temperar a curiosidade e o apetite de Vossa Mercê, que sei que gosta desta iguaria. Dedico-os a Vossa Mercê e não a outros. Lembro-me que Jacó não enganou seu velho pai cego com uma iguaria, porque este havia-lhe reconhecido a voz. Mas levado pelo sabor da iguaria, concedeu-lhe a benção, a mesma que peço a Vossa Mercê. E com ela não temerei aos maldizentes. Nosso Senhor conserve e aumente a Vossa Mercê vida, saúde e estado, como também aos seus.------------------ ----------------------------- Bahia. 20 de dezembro de 1627 -----FREI VICENTE DO SALVADOR.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Usar ou não algemas

USAR OU NÃO ALGEMAS

Algemas não devem ser usadas para prender ricaços. Por quê? Porque Todo Mundo sabe que quem tá algemado tá preso. E Todo Mundo tem de saber que ricaços não podem ser presos. Quando muito, são convidados para Algum Lugar onde levem um papo tranqüilo com representantes da Lei e advogados. Sendo absolutamente inevitável o engaiolamento do ricaço, sua abordagem, seu transporte e até mesmo Algum Lugar devem ser enfumaçados de mistério, prá que Todo Mundo não veja, senão ocorrerá uma monstruosidade chamada Constrangimento. O importante é que Todo Mundo não saiba direito o que houve. Porque se souber, Todo Mundo poderá querer usar seu voto para mudar o rumo de tudo e haverá o risco do mundo virar de cabeça para baixo. Mas o que Todo Mundo já viu, ninguém pode mais negar. E aconteceu que a polícia meteu os pés pelas mãos, algemando e enjaulando na frente de Todo Mundo não apenas um ricaço, mas o próprio paidégua dos ricaços. Foi uma baita confusão que deu. Um corre-corre desgraçado, imprecações furiosas, gritos e tabefes. Realizou-se o fantasmagórico Constrangimento. Encomendaram um navio cargueiro cheio de panos quentes. E prá tentar evitar que tal loucura se repita, juízes saíram apressadamente prá baixar uma lei (no Brasilzim de Açúcar juízes podem baixar leis) dizendo que dalí por diante, ao ser preso, ninguém mais deverá ser algemado. Isso, prá Todo Mundo pensar que o que vale pro ricaço vale também prá Todo Mundo. Mas Todo Mundo tá achando que essa tal lei é prá fazer boi dormir. Seja como for, fiéis defensores da justiça já acataram a decisão ao pé da letra. Tem-se notícia de que em Propriá do Cariri o cabo do destacamento, prá transportar um elemento chamado João Sabonete até seu Algum Lugar, que no caso é mesmo o xilindró, mandou o praça ao mercado comprar dez braças de corda de carnaúba numero dois e deu um nó no sujeito desde a cintura até o pé do pescoço.

Antonio José Soares Brandão

ajsbrandao@gmail.com

Fortaleza-Ceará